Empresas se comprometem não adquirir produtos de fornecedores que estão em desacordo com as boas práticas
Por Marcus Lopes — Para o Valor, de São Paulo
O agronegócio brasileiro está empenhado em mostrar que não é um setor predatório - crítica recorrente no mercado global - e sim comprometido com a preservação ambiental a partir de ações concretas, amparadas principalmente pelo avanço da tecnologia no campo - que contribuiu para o aumento da produtividade por hectare ao longo das décadas -, certificações de origem de produtos e nas regulações do setor para impedir o desmatamento ilegal.
“A agenda de política pública da Amazônia é vasta e complexa, acumulando décadas de conflitos e insegurança jurídica. No setor agropecuário, as duas áreas mais expostas são a soja e a pecuária”, diz o professor de agronegócio global do Insper, Marcos Jank. Segundo ele, diante da lentidão do governo federal em avançar com uma agenda ambiental consistente e que não prejudique os negócios globais, empresas agropecuárias estão assumindo o compromisso de não adquirir produtos de fornecedores que estejam em desacordo com as boas condutas ambientais.
“A Cargill e o Marfrig deram passos à frente nesse processo, prometendo eliminar completamente o desmatamento de toda a sua cadeia de suprimentos até 2030”, cita Jank. A Amaggi, uma das maiores empresas processadoras de soja em operação no país, emitiu em janeiro deste ano US$ 750 milhões em “sustainability bonds” - títulos de renda fixa internacionais com o objetivo de financiar uma economia sustentável e de baixo carbono, por meio de projetos alinhados à política socioambiental da empresa e da Organização das Nações Unidas (ONU).
Segundo dados do Insper, a produtividade da soja brasileira hoje é de 3,4 toneladas por hectare, 25% superior à obtida pela França, 70% maior que a da China e o dobro da russa. A produção de milho é de 5,4 toneladas/hectare. A agricultura de precisão aplicada nas lavouras também é responsável por outros ganhos ambientais e econômicos, como redução do consumo de água na irrigação e práticas de manejo do solo que reduzem a liberação de carbono na atmosfera durante o processo de produção.
“Se produzíssemos grãos com a mesma tecnologia dos anos 90, seriam necessários cem milhões de hectares de terras a mais para conseguirmos atingir nossa produção atual”, diz Mônika Bergamaschi, presidente do conselho diretor da Associação Brasileira do Agronegócio da Região de Ribeirão Preto (Abag/RP). Segundo ela, um dos objetivos das entidades agrícolas é “separar o joio do trigo” entre os produtores.
“A grande maioria dos produtores segue rigorosamente todas as normas ambientais, pois não é vantajoso para ninguém derrubar uma floresta”, diz Monika, lembrando que a sustentabilidade não está apenas na preservação das florestas, mas nas técnicas de produção aplicadas em lavouras espalhadas por todo o país.
Um exemplo é a certificação internacional Bonsucro conquistada recentemente por produtores de cana-de-açúcar na região de Guariba (SP). A certificação, concedida apenas a quem obedece normas rigorosas de sustentabilidade em toda a cadeia de produção de cana, permite a conquista de melhores preços para a cana no mercado nacional e internacional.
O presidente da Abag, Marcelo Brito, defende que o governo federal faça sua parte em ações mais incisivas de proteção ambiental, como a aplicação do Código Florestal e o combate ao desmatamento ilegal praticado, na maior parte, por grileiros. “Não precisamos de novas leis de proteção ambiental, mas sim de aplicar as que já existem, como o Código Florestal”, diz.
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento afirma que o governo federal adota diversas medidas e programas para promoção da agricultura sustentável. Entre eles, o Plano ABC (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono) de política nacional focada em estimular a agricultura sustentável.
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