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Borborema: território dos enxovais

A região onde hoje está a cidade de Borborema aparecia nos antigos mapas do Estado de São Paulo como região inexplorada. No final do século IXX a boca do sertão” terminava em Araraquara. Dali para frente, apenas precárias estradas rumo às barrancas do Rio Paraná. O primeiro nome dado à cidade foi “Fugidos”, uma referência aos escravos que fugiam e se instalavam naquele local distante. Com o desbravamento, os escravos foram se dispersando, dando lugar aos posseiros que ali se instalaram pela facilidade de aquisição de terras virgens.

Da “Fazenda Fugidos”, que tinha vários donos, foi feita a primeira doação de terras para a formação do perímetro urbano, no início do século XX. Em 1905, quando foi instalado um distrito policial, o local passou a ser chamado Borborema, que significa “sem gente” na língua Tupi (“Porpora-Eyma”). O nome foi uma sugestão do Instituto Histórico e Geográfico do Estado de São Paulo, uma vez que o lugar era uma simples referência aos viajantes. No início do povoado a agricultura e a criação de animais servia apenas para a subsistência, mas com a abertura de picadas, ligando Borborema aos povoados vizinhos, começou a comercialização e o desenvolvimento local. A cidade não tinha boas estradas, mas tinha telefone.

Em 1913 já eram quase 20 linhas. Os postes de telefonia impediram a instalação da rede elétrica.Em1925, um ano antes da emancipação política, a população se revoltou, e derrubou os postes com serras e serrotes. Borborema ganhou eletricidade, mas ficou 25 anos sem telefone. O café foi o carro-chefe do desenvolvimento. Hoje a atividade agrícola divide o status de importância econômica e social com o bordado, tanto que a cidade é tratada como o “Território dos Enxovais”. Com quase 14.000 habitantes fixos, e outros 6.000 flutuantes, trabalhadores rurais, a tranqüila cidade à beira do Rio Tietê passa por um momento de euforia com a economia local aquecida e emprego para todos, principalmente a mão-de-obra especializada em bordados. As 50 micro empresas de bordado e as 15 lojas especializadas empregam 1/3 da população.

Outro 1/3 trabalha na agricultura, e o restante em serviços e nas indústrias diversas. Uma das indústrias que orgulha os moradores é a que produz máquinas gráficas para formulários contínuos. O comércio especializado em enxovais recebe compradores de diversos estados, que lotam as ruas principalmente nos finais de semana. Outra área importante do turismo para a economia local é a pesca. Em Borborema ficam os grandes lagos da hidroelétrica Tietê. O despoluído e piscoso Rio Tietê recebe nos finais de semana de verão cerca de 3 mil turistas. A “praia” do Juquita é disputada palmo a palmo. Os pesqueiros e ranchos se espalham à beira do Tietê que chega a ter 2 mil metros de largura. A infra-estrutura local é praticamente toda 100%: água tratada e encanada, asfalto, coleta e tratamento de esgoto, e coleta de lixo.

Na área da saúde são 6 unidades ambulatoriais que cobrem quase todas as especialidades médicas. As unidades possuem o PSF, Programa de Saúde da Família, para o trabalho preventivo. Nenhuma criança está fora da escola. São quatro unidades de educação municipal e três estaduais. Uma escola técnica particular oferece cursos nas áreas de enfermagem e açúcar e álcool. No ensino superior existe apenas uma faculdade que trabalha com a metodologia de ensino à distância. Para os universitários que estudam em outras cidades há subsídio para o transporte. As festas locais são conhecidas em toda “Araraquarense”.O Carnaval é um dos melhores da região e acontece nas ruas do centro da cidade. A Festa do Peão, em setembro, é outro acontecimento regional.

As festas religiosas completam o calendário. A cidade tem como padroeiro São Sebastião e, possui uma das maiores catedrais do interior, com mil assentos. Em 2007 a cidade comemora 30 anos do maior acontecimento cultural de sua história: em 1977 foi gravado, em Borborema, o filme “O Menino da Porteira”, com Sérgio Reis. A personalidade mais conhecida do município é uma enfermeira, que em 1963 embarcou em um avião da FAB, rumo ao Mato Grosso, para trabalhar como voluntária com os índios durante uma semana. Ficou lá por mais de 20 anos! A enfermeira Marina conheceu “naquela semana”, Orlando Villas Boas, com quem se casou e dividiu um sonho. Enquanto ele e o irmão viabilizavam o Parque do Xingu, Marina Villas Boas viajava em lombos de cavalos, carroças e canoas por toda a região, cuidando da saúde dos índios.

As histórias pitorescas de Borborema estão contadas no livro “A História do Pito Aceso”, de Ariana Lopes. São histórias como a do suplício das pessoas com Mal-de-Lázaro, que no início do século passado vagavam pelo sertão menos habitado do estado, após serem banidas de suas cidades; ou a do “Pito Aceso”, um bairro que era uma espécie de prostíbulo, e suas meninas classificadas como do “pito aceso”. Ler a história de Borborema é entender um pouco mais das façanhas e artimanhas daqueles que desbravaram São Paulo, gerando riqueza e desenvolvimento para o Estado.

Dados

  • Propriedades: 950, sendo: 70% de 1 a 50 ha
  • 50 a 100 ha: 28%
  • +100 ha: 2%
  • Cana-de-açúcar: 14.500 ha 95 ton/ha
  • Pastagem: 20.000 ha
  • Citricultura: 3,5 milhões de pés 2,5 cxs por pé
  • Rebanho: 12.500 cabeças gado de corte
  • 6.000 gado misto
  • 550 gado de leite

Fonte: Casa da Agricultura de Borborema.

Novembro/2008

ABAG/RP