Este conteúdo foi elaborado a partir de informações da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB)
Apresentar o cooperativismo brasileiro.
Mostrar a importância do cooperativismo para o agro brasileiro.
Revelar a dimensão do cooperativismo agropecuário brasileiro.
No Brasil, a cultura da cooperação é observada desde a época da colonização portuguesa, estimulada por funcionários públicos, militares, profissionais liberais, operários e imigrantes europeus. Oficialmente, o movimento teve início em 1889, em Minas Gerais, com a fundação da Cooperativa Econômica dos Funcionários Públicos de Ouro Preto, cujo foco era o consumo de produtos agrícolas. Depois dela surgiram outras cooperativas em Minas Gerais e também nos estados de Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul.
A mais antiga em funcionamento
Em 1902, o padre suíço Theodor Amstad fundou a primeira cooperativa de crédito do Brasil: a Sicredi Pioneira, até hoje em atividade. Com sede em Nova Petrópolis, RS, a cooperativa foi a solução encontrada por Amstad para melhorar as vidas dos moradores do município, que até então não contavam com nenhum banco.
Com a propagação da doutrina cooperativista, as cooperativas se expandiram em um modelo autônomo, voltado para suprir as necessidades dos próprios membros, livrando-se da dependência dos especuladores.
Não foi por acaso que o berço do cooperativismo no Brasil foi a região Sul. Os colonos europeus que ali chegaram, alemães, holandeses, italianos e poloneses, já conheciam a doutrina e a trouxeram para implementar por aqui.
A Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) representa formal e politicamente o Cooperativismo Nacional, sendo responsável pela defesa do mesmo em todas as instâncias políticas e institucionais, tanto no Brasil quanto no exterior. É uma entidade privada que integra todos os ramos de atividades.
A OCB foi regulamentada em 1970 para unificar o movimento e organizar as unidades estaduais. A partir de então o cooperativismo passou a trabalhar para se tornar um modelo empresarial de negócio, e possibilitar a expansão econômica das cooperativas.
Cada estado possui uma OCE, Organização Estadual de Cooperativas, que exerce as mesmas funções da OCB, porém em nível estadual.
No Brasil, segundo a OCB, em números de 2020, são 4.868 cooperativas espalhadas por todos os estados*, garantido a geração de empregos e renda por todo o território. Pouco mais de 17 milhões de pessoas fazem parte de cooperativas, sendo 60% homens e 40% mulheres. O cooperativismo ainda emprega 455.095 pessoas. As cooperativas brasileiras são divididas em sete diferentes ramos, para viabilizar a atuação e facilitar a organização das ações e projetos.
* Número referente às cooperativas com registro ativo na OCB até a data de 31/12/2020.
Fonte: Anuário do Cooperativismo Brasileiro 2021, com dados de cooperativas com registro ativo na OCB até 18/06/2021 e cooperativas registradas junto à OCB até a data de 31/12/2020. Adaptado por ABAG/RP.
Reúne cooperativas relacionadas às atividades: agropecuária, extrativista, agroindustrial, aquícola ou pesqueira. O papel da cooperativa é receber, comercializar, armazenar e industrializar a produção dos cooperados. Além desses, oferecer assistência técnica, educacional e social. Hoje, segundo o IBGE, 48% de tudo o que é produzido no campo brasileiro passam, de alguma forma, por uma cooperativa. As cooperativas agropecuárias são excelentes alternativas para os pequenos produtores rurais, pois viabilizam o acesso a serviços (técnicos, jurídicos, administrativos) que individualmente eles teriam dificuldades em contratar. As cooperativas, portanto, ampliam a viabilidade das pequenas propriedades rurais.
As cooperativas de crédito são autorizadas a oferecer os mesmos serviços que outras instituições financeiras, como cartão de crédito, financiamento, consórcio, plano de previdência privada, e são também reguladas pelo Banco Central do Brasil. Quais as diferenças? Várias. As cooperativas de crédito conseguem oferecer taxas, tarifas e prazos mais adequados à realidade financeira dos seus cooperados, por exemplo. Inclusive, em diversos municípios brasileiros, elas são a única alternativa de acesso aos serviços financeiros.
Trabalho, Produção de Bens e Serviços
Esse ramo engloba as cooperativas que prestam serviços especializados a terceiros, ou que produzem bens tais como beneficiamento de material reciclável e artesanatos, por exemplo. Ele reúne todas as cooperativas de professores e dos antigos ramos: produção, mineral, parte do turismo e lazer e, por fim, especial.
Transporte
Formado por cooperativas que atuam na prestação de serviços de transporte de cargas e passageiros. Essas cooperativas têm gestões específicas para cada uma de suas modalidades: transporte individual (táxi e mototáxi), transporte coletivo (vans, micro-ônibus e ônibus), transporte de cargas ou moto frete e transporte escolar.
O ramo saúde reúne cooperativas formadas por médicos, odontólogos, ou profissionais ligados à área de saúde humana; e também as cooperativas de usuários que se reúnem para constituir um plano de saúde, pois são consideradas operadoras.
Este ramo é composto por cooperativas que realizam compras em comum, tanto de produtos quanto de serviços, para seus cooperados (supermercados, farmácias). Engloba, também, as cooperativas formadas por pais para contratação de serviços educacionais e também aquelas de consumo de serviços turísticos.
Formado por cooperativas que fornecem serviços essenciais para seus associados, como energia e telefonia, por exemplo, bem como as cooperativas de construção de imóveis para moradia.
Como já vimos, no Brasil existem 17.121.076 milhões de cooperados, reunidos em 4.868 cooperativas, que geram 455.095 empregos diretos.
Quando se fala em exportação, os produtos cooperativos, segundo dados da OCB, têm como principais destinos a China (38,1%), França (5,9%) e Alemanha (5%).
Cooperativismo Exportador
Os principais produtos exportados pelas cooperativas brasileiras:
Os principais produtos exportados pelas cooperativas brasileiras:
*Fonte: Informações referente às cooperativas apoiadas pela Apex-Brasil e Sou.Coop
As cooperativas agropecuárias são responsáveis por quase a metade da geração de empregos, 223.477. São 1.173 cooperativas com 1.001.362 cooperados. Elas estão ligadas às atividades agropecuária, extrativista, agroindustrial, aquícola ou pesqueira.
Com modelos de negócios presentes em diversas cadeias produtivas, como grãos, fibras, carnes, lácteos, entre outras, as cooperativas geram economia de escala nos processos de compra e venda, promovendo a agregação de valor à produção.
Elas oferecem aos cooperados desde insumos e de assistência técnica, até toda a infraestrutura de armazenagem, processamento e comercialização. Dessa forma os produtores têm acesso a tecnologias e estruturas que não teriam individualmente.
Estando ligado a uma cooperativa os produtores, mesmo os pequenos, conseguem ter acesso a assistência técnica, gerencial e jurídica. Podem comprar insumos e vender produtos coletivamente, reduzindo custos de produção e negociando melhor com os clientes. Esses benefícios fazem diferença para todos os envolvidos, inclusive os consumidores, que podem adquirir produtos seguros, com qualidade superior e até com preços mais acessíveis. Por exemplo, o amendoim de pequenos produtores do interior de São Paulo que vai para grandes indústrias de alimentos, ou para os exigentes mercados europeus. Sem falar do nosso café, exportado para vários países, que quase a metade (48%) são produzidos por cooperados dos estados de Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Espírito Santo.
E os resultados alcançados pelas cooperativas agropecuárias também voltam para a sociedade com mais desenvolvimento e qualidade de vida:
em 2020, elas recolheram R$ 8,5 bilhões aos cofres públicos, em forma de impostos, valor 30% maior que no ano anterior. Isso sem contar com os mais de R$ 7,1 bilhões investidos em salários e benefícios aos seus funcionários.
Vamos começar pelo café, que é produzido em 1.900 cidades, por 287 mil produtores. Imagine cada um trabalhando sozinho, tentando vender seu produto aqui e lá fora, além de armazenar, classificar, estocar, beneficiar. Impossível. Por isso, aproximadamente a metade deles faz parte de uma das 97 cooperativas de café espalhadas pelo Brasil.
Na região mais tradicional da cafeicultura paulista, a Alta Mogiana, conhecida mundialmente por produzir café arábica de qualidade excepcional, fica a Cocapec, Cooperativa de Cafeicultores e Agropecuaristas, que a partir de Franca transformou o cenário da cafeicultura, e estimulou o incremento tecnológico no campo nas regiões onde atua.
A Cocapec criou melhores condições para a aquisição de produtos, dinamizou a compra e venda de café, e trabalhou com seus cooperados pela melhoria da qualidade do café produzido em cada uma das propriedades rurais.
A cooperativa tem também marcas próprias, o Senhor Café e o Tulha, preparados em uma torrefação diferenciada para comercializar seus próprios cafés, e também preparar blends específicos para outras marcas e para a exportação.
Sede da Cocapec em Franca, SP. O local tem capacidade de armazenamento para aproximadamente 300 mil sacas de café.
Foto: Cocapec
O amendoim é outro produto que ganhou força com o cooperativismo. Tanto que a cidade de Jaboticabal, onde fica a unidade de grãos da Coplana, Cooperativa Agroindustrial, é conhecida como “Capital do Amendoim”. Foi a cooperativa, que nasceu da união de produtores de cana-de-açúcar, que alavancou a oportunidade de aumentar a renda dos pequenos produtores com a produção do grão. O amendoim, nos anos 1970, era uma cultura tradicional em São Paulo, porém ainda pouco mecanizada, que exigia um trabalho árduo pela própria característica da planta, cujas vagens se desenvolvem embaixo da terra, e por isso foi perdendo espaço para outros cultivos.
A grande sacada dos técnicos da cooperativa foi aproveitar a reforma dos canaviais e plantar amendoim, que tem ciclo curto, de cerca de 100 dias. Além dos benefícios agronômicos, há a geração de empregos e renda. Cerca de 15% das áreas de cana podem ser utilizadas anualmente.
O trabalho foi destinado aos pequenos produtores, que não tinham terras disponíveis para o plantio, mas poderiam arrendar áreas de usinas ou de grandes proprietários, conseguindo renda adicional. Tudo saiu melhor que o previsto a partir de meados de 1980, e o amendoim voltou com força total para dividir espaço com a cana.
A cooperativa promoveu a mecanização da lavoura, e fez grandes investimentos em estruturas de pós-colheita, limpeza, secagem, armazenamento seguro, beneficiamento e padronização, além da comercialização. A Coplana inseriu o Brasil no mercado externo de amendoim, pois elevou o padrão de qualidade do grão produzido por seus cooperados. Hoje o amendoim da região de Jaboticabal tem certificações importantes, e pode ser exportado para os mais exigentes mercados. Além disso, esse amendoim premium está presente em diversos produtos da indústria nacional.
Pense em algum, além da paçoquinha e do pé-de-moleque, da bolinha colorida de chocolate recheada com amendoim inteiro, do chocolate que leva amendoim e caramelo, do bombom de embalagem cor de rosa mais famoso do Brasil, do ovinho salgado, do amendoim japonês, da pasta de amendoim pura ou com chocolate, do leite de castanha com amendoim. Muita coisa gostosa!
Amendoim a granel em um dos armazéns da Coplana, unidade de Jaboticabal, SP.
Foto: Ewerton Alves
Quem já comeu produtos Aurora?
A Aurora, mais do que uma marca, é uma união de cooperativas. São 11 organizações que fazem parte do Sistema Aurora, congregando 65 mil famílias de empresários rurais, que empregam 10 mil pessoas regionalmente, e outras 37 mil em todo o país. As cooperativas do Sistema Aurora estão em Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso do Sul, e alimentam as indústrias que usam as matérias primas produzidas pelos produtores rurais, especialmente as que industrializam suínos, aves e leite. A Aurora é referência em tecnologia e processamento de carnes, exportadas para diversas partes do mundo.
E bebeu produtos Garibaldi?
O vinho da Cooperativa Vinícola Garibaldi tem feito bonito em todo mundo, vencendo concursos internacionais. Uma história que começou em 1931 no Rio Grande do Sul, por influência da imigração europeia. Os vinhedos dos cooperados da Garibaldi se espalham por 400 propriedades rurais, de 15 cidades da Serra Gaúcha. Juntos esses agricultores produzem mais de 20 milhões de quilos de uva a cada safra, que são processadas em um moderno parque industrial de onde saem espumantes, vinhos e sucos. São mais de 70 rótulos, distribuídos em cerca de dez marcas.
Já imaginou ser dono de um banco?
No Brasil existem 758 cooperativas de crédito, que pertencem a 11.966.563 cooperados, cooperativas que fazem o dinheiro da região girar dentro delas mesmas e ainda geram 79.121 empregos.
Elas prestam serviços financeiros exclusivos aos seus cooperados, que também são seus donos e ainda participam da gestão das mesmas. Um banco cooperativo oferece os mesmos serviços que qualquer banco oferece para empresas ou pessoas físicas: desde poupança e aplicações, até conta corrente, folha de pagamento, empréstimos, consórcios, entre outros serviços.
Os bancos cooperativos são tão seguros quanto qualquer outro banco tradicional, pois também seguem as determinações do Banco Central do Brasil. A grande diferença é que não são propriedade de um pequeno grupo de investidores, mas pertencem a todos os cooperados, responsáveis pela integralização das cotas parte.
Os bancos cooperativos buscam atender as necessidades dos cooperados, e não visam lucro, pois não distribuem dividendos. Enquanto clientes, donos e gestores, os próprios cooperados adequam os produtos às demandas e instituem taxas de administração usadas para manter o funcionamento da cooperativa. Ao final do exercício, que geralmente coincide com o final do ano, se os recursos retidos excederem as despesas, as denominadas “Sobras” são devolvidas aos cooperados, na proporção de suas movimentações financeiras com a cooperativa. Assim os serviços bancários são mais baratos em relação aos bancos comerciais convencionais.
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