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Agronegócio é a alma de Descalvado

“Aves, carne bovina e suína, leite e derivados, milho, cana, café, laranja... O agronegócio é a alma de Descalvado”, define o prefeito José Carlos Calza, desta cidade de 29 mil habitantes, fundada em 1832, em torno da capela de Nossa Senhora do Belém, nas terras dos índios caingangues, na sesmaria do bandeirante Amador Bueno da Veiga. O agronegócio, como em quase toda a extensão da Via Anhangüera, começou a chegar com o café, levado por mineiros.

Teve um pequeno ciclo do algodão, que alimentou algumas tecelagens, nos anos 40. Mas nos 60, tudo mudou, com a família Fregonezzi, de Poços de Caldas, implantando a avicultura. Mesmo depois de muita dificuldade, essa criação ainda marca a cidade e se recupera, para que não perca o título de “Capital do Frango de Corte” do Estado de São Paulo. “Quem mora em Descalvado tem de ter granja” era o bordão, lembrado até hoje por Carlos Roberto Garcia, presidente da renovada Cooperativa Agrícola Mista do Vale do Mogi Guaçu, dona da marca Coperfrango. Eram centenas de granjeiros, há 40 anos, seduzidos pelos Fregonezzi, que instalaram a avicultura ali.

Depois, os estados do Sul e seus frigoríficos, estimulados por subsídios aos insumos jamais conseguidos por São Paulo, passaram à frente. “Antes da ‘vaca louca’, o frango deles era vendido aqui em Descalvado mais barato do que o nosso. Agora, exportam tudo e o mercado está favorável de novo”, desabafa. “Só uma reforma tributária vai resolver”, espera o prefeito. A cooperativa chegou a ter 1.300 associados (150 avicultores). Hoje são 35, que fornecem 1,5 milhão de frangos por mês. Estão investindo R$ 12 milhões na automação e, em 90 dias, calculam abater 2 milhões e ocupar toda a estrutura da granja de matrizes, incubatório, fábrica de ração, túnel de resfriamento e congelamento e os postos de Pontal, Americana, Bauru, Sorocaba e São José dos Campos.

Aí, o Coperfrango estará em outros estados, acompanhado de uma variedade de embutidos, prevê Garcia, à frente de 680 empregados. Antes do frango, o leite dividia com o café a zona rural do município. A Agrindus está lá desde 1945. Hoje, o rebanho de 900 vacas holandesas dá 10 milhões de litros por ano, transformados em uma linha de derivados em parceria com a marca Salute. A meta é ampliar o “kochër”, com leite “A”, light e iogurte, para abastecer a colônia judaica, segundo o diretor Roberto Jank Jr. Na pecuária de corte, a empresa abate por ano 1.500 cabeças das cinco mil da criação. Ela mantém o sistema de transferência de 600 embriões anuais mais 400 que ela vende no mercado, a partir de 120 doadoras de criadores de todo o País.

E cria frangos: 75 mil aves alojadas no sistema de integração com a Coperfrango e o frigorífico Hildebrand, de São Carlos. Em 1993, a agroindústria de Descalvado deu outro salto, com a recuperação da Usina Ipiranga. É uma das maiores empregadoras da cidade: 502 funcionários dão conta da safra que, este ano, deve chegar a 690 mil toneladas de cana para produzir 47 mil toneladas de açúcar e 32 milhões de litros de álcool, calcula seu diretor Leopoldo Titoto. As francesas Socil, Royal Canin e SPF também fortalecem o agronegócio de Descalvado, fabricando ração para aves, pequenos animais e insumos úmidos para ração. A Prefeitura acabou de criar o Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural, “para acelerar a incorporação de 85% dos mil produtores e criadores às novas tecnologias — esses têm até 50 hectares”, conta o diretor da Casa da Agricultura, José Paggiaro.

Têm à disposição tratamento fitossanitário e uma patrulha agrícola que consideram a melhor do Estado, formada por 25 implementos, de niveladoras a colhedoras, plantadoras e cinco tratores. O objetivo é estimular o plantio de milho, de olho numa nova era para a avicultura e livrá-la da importação do produto que hoje vem quase todo de Goiás.

Dados

  • Cana-de-açúcar: 22 mil hectares
  • Milho: 4 mil hectares
  • Laranja: 3 milhões de pés
  • Café: 1,1 milhão de pés
  • Avicultura: 5 milhões de aves
  • Pecuária de leite: 12 mil cabeças
  • Produção de leite: 75 mil litros/dia
  • Pecuária de corte: 15 mil cabeças
  • Gado misto: 5 mil cabeças
  • Pasto: 20.500 hectares

Julho/2001

ABAG/RP