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Franca é filha do agronegócio

O historiador José Chiachiri Filho conta que o café chegou primeiro, em 1870. E com ele vieram os trilhos da Mogiana, os primeiros imigrantes e o desenvolvimento. “Ali, Franca deixou de ser ‘boca de sertão’ e tornou-se o centro da região que abrange até o Triângulo Mineiro”, diz. Os imigrantes, italianos e espanhóis, principalmente, deram novo impulso à pecuária, aprimorando o curtimento em curtumes equipados com tecnologia alemã, abrindo as selarias e oficinas de calçados. Franca, nos anos 20 do século passado, era um pólo fornecedor de carne, charque, couro, solados, café, queijo, farinha de mandioca e de milho, rapadura, aguardente e pano grosso de algodão, que saía de seus teares.

Franca também fazia carros de bois. Tudo seguia para Campinas, São Paulo, para o porto de Santos, de onde vinham ferro, vinho e sal. Até a chegada do café, o sal era a moeda de troca. A cafeicultura fez circular o dinheiro, estimulou as manufaturas, impulsionou o capitalismo, ajudou a formar a burguesia e a cidade. Esse tripé do agronegócio francano – café, couro e calçados — garante até hoje a riqueza do município. O prefeito Gilmar Dominici conta que 70% da economia local está nessas atividades. São 25 mil trabalhadores empregados diretamente na cafeicultura, 22 mil nas 600 indústrias calçadistas e cerca de dois mil na produção do couro, entre os 287 mil habitantes.

Ele acredita que neste ano, as fábricas de calçados devam movimentar US$ 280 milhões; o couro, US$ 111 milhões, e o café, US$ 90 milhões, “mas já alcançou US$ 160 milhões”. A qualidade dá ao café de Franca as melhores cotações do Estado de São Paulo. Sua Cooperativa de Cafeicultores e Agropecuaristas, a Cocapec, reúne 900 produtores. Para superar a crise vivida no momento, o presidente, David Sebastião Ferreira, convoca os cooperados a lutar pela melhor qualidade e estuda a introdução do café na merenda escolar, “visando criar, desde a infância, o hábito de consumir um ótimo produto obtido na própria terra”. Franca é o centro da região que beneficia 28 mil metros quadrados de couro por dia. A maior parte se destina à indústria de estofamento; depois, para o vestuário; em terceiro lugar, artefatos, como cintos e bolsas, e em seguida para calçados.

O presidente da Associação dos Curtumeiros, Paulo Neves de Castro e o diretor da Associação Brasileira da Indústria do Calçado, Carlos Brigagão, comemoram, ainda discretamente, a vitória em uma luta antiga, que fez o governo taxar em 9% a exportação do couro wet blue, semi-acabado. “O Brasil ficava só com a poluição”, afirma Brigagão. Este ano, Franca produzirá 33 milhões de pares de calçados. Ano passado, foram 32 milhões, e o recorde está com o Plano Cruzado, em 1986: 40 milhões. Serão exportados 12 milhões este ano, com uma receita esperada de US$ 100 milhões. A melhor marca, 18 milhões de pares, foi no ano de 1992.

Dados

  • Superfície: 690 km²
  • População: 287 mil
  • Alfabetização: 97%
  • Ag. Bancárias: 30
  • Lojas: 6.807
  • Indústrias: 1.991
  • ICMS: 0,39% do Estado

Junho/2001

ABAG/RP