A mecanização do plantio e da colheita da cana-de-açúcar está mudando o perfil da agricultura e da agroindústria na cidade. Mas todos já escolheram o futuro: de novo, o agronegócio, fonte de 80% da arrecadação anual de R$ 18 milhões da Prefeitura. Onde o relevo não permitir o trabalho das máquinas, a cana dará lugar na paisagem para a cafeicultura, citricultura e reflorestamento. A mudança é rápida, porque metade dos canaviais, que ocupam 60% da zona rural, já está mecanizada.
O café, por exemplo, saltou de uma lavoura de 107 mil pés para 280 mil neste ano e os eucaliptos tomaram 436 hectares, enquanto laranja, limão e tangerina prometem ser a mais nova alternativa, segundo a engenheira-agrônoma Vera Lúcia Palla, da CATI Regional. “Esse quadro novo vai evoluir, mas Guariba continuará o município onde não se encontra um centímetro quadrado ocioso”, orgulha-se a agrônoma. A Coplana, uma das maiores cooperativas de produtores de cana do Estado de São Paulo, entra nessa transformação reforçando a posição de Guariba na rota do comércio internacional, que ela já percorre com a exportação de açúcar e acaba de embarcar para a Itália e Austrália 144 toneladas de amendoim de seus cooperados, que também cultivam soja na reforma dos canaviais.
“É uma venda experimental e esperamos que seja promissora”, estima o presidente Francisco Baratella. Na conquista do mercado externo, a cooperativa investe R$ 1,8 milhão para aprimorar o beneficiamento e garantir a qualidade do amendoim, com menos de 8% de umidade – exigência dos importadores. Guariba também é “conhecida lá fora”, como diz sua gente, pela experiência inédita no mundo de reciclar embalagens de agrotóxicos. O programa, com apoio da Cetesb, CATI, Andef, Aenda e Aeasp, começou a oito anos na Coplana e já processa entre 40 e 45 toneladas por mês de plástico, vidro e lata.
Quase tudo volta ao mercado em forma de conduíte para instalações elétricas, pratos e metais, como arames para cerca. “Hoje, esse trabalho em defesa do meio ambiente é imitado em diversos países e nos estados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina, Rio de Janeiro e Espírito Santo. Até 2005 será assim em todo o País”, espera o engenheiro agrônomo Wellington Caiado de Castro, diretor da cooperativa e um dos idealizadores do programa. Para absorver os trabalhadores substituídos pela máquina, além dos programas de treinamento da Açucareira Corona, a maior empresa do município, e das usinas vizinhas São Carlos, São Martinho, Santa Adélia e Santa Luíza, a Prefeitura e a Secretaria da Agricultura, por meio da CATI Regional, abriram duas frentes de investimento.
“A mão-de-obra excedente terá à disposição sete hortas municipais conduzidas, inicialmente, por 20 famílias carentes e com afinidade agrícola”, define Vera Lúcia Palla. E o prefeito Hermínio de Laurentis Neto promete para o ano que vem o distrito industrial, numa área de 7,5 alqueires, destinado a abrigar também o comércio atacadista — um entreposto vendedor da produção dos pequenos produtores diretamente aos consumidores. “Esses pequenos produtores terão como incentivo equipamentos agrícolas para motivá-los a desenvolver suas atividades”, afirma. Motivação que nunca faltou na história de Guariba, nascida sob o signo da ferrovia, em 1895, e que nesta hora de optar por novos caminhos de riqueza escolhe, outra vez, o agronegócio.
Dados
- População: 31 mil habitantes
- Cana: 1,36 milhão de toneladas
- Amendoim: 156 mil sacas/25kg
- Soja: 76 mil sacas/60kg
- Rebanho bovino: misto, de 1.540 cabeças
- Abate de suínos: 4.500 cabeças/ano
Outubro/2001