Ninguém fica desempregado na cidade de Sales Oliveira porque o agronegócio não deixa. Produtores de arroz, milho, cana-de-açúcar, soja, amendoim, café, até os criadores de gado de corte e de leite, disputam os trabalhadores que, há mais de 40 anos, preferem, mesmo, fazer palha de cigarro “picadão” tirada das espigas do milho. A produção é tanta, que já buscam matéria-prima em Minas, Paraná e Goiás, sem falar da semente, que vem até da Bahia.
O milho que dá essa palha só pode ser colhido à mão, e a semente é dada pelo “palheiro” ao fazendeiro, em troca da palha. Na cidade são 50 fabricantes de palha, que empregam 2.500 trabalhadores enquanto duram a safra e a safrinha. Quase todos fazem o serviço em casa — `bico`, coisa de três, quatro horas por dia, para tirar R$ 120,00 por mês, “mas quem se dedica mais chega a uns R$ 400,00”, na conta de José Mário Martins, o maior “palheiro” de Sales. Essa história começou com João Guilherme Tiziotti. Ele tinha ali uma loja de armarinhos e tecidos que não ia pra frente.
Começou a fazer palha para “matar o tempo” e o negócio deu certo. Logo largou a loja e ficou só com a “palha”. Até hoje, os 40 ou 50 fabricantes de Sales não sabem quanto produzem nem quanto faturam. O Sebrae tentou calcular, mas não conseguiu. Na Prefeitura, arriscam R$ 5 milhões por ano. É tudo artesanal, desde a colheita, porque a máquina salva os grãos, mas dilacera a palha. De cada 25 toneladas de milho, tiram quatro de palha, que é umedecida por um dia num caixote de madeira, cortada, dobrada e embalada. Até hoje, nenhuma tecnologia foi incorporada, só a prensa de alisar. O Brasil inteiro compra, mas a palha de Sales já foi vista em tabacarias de Paris e em Roma, na Piazza Navona, freqüentada por intelectuais que as enrolam com fumo para cachimbo.
No Brasil, fora os revendedores, boa parte das encomendas segue pelos Correios, em pacote de mil palhas, da melhor. Mas para o Exterior dizem ignorar como se dá a exportação. A palha faz a fama de Sales, mas a agroindústria salense já cresce em outras direções. A Guabi, fábrica de rações para animais de produção, é a maior empresa da cidade. Chegou em 1978 e emprega 200 trabalhadores. Em 1997, instalou-se a RF Agrícola, fazenda de cana e gado que em dois anos se tornou laticínio produtor de 80 quilos de mussarela de leite de búfala e 40 quilos da de leite de vaca por dia, com as marcas ‘Sapore d’Itália’ e ‘Campana’.
A granja de Jesus Messias Piloto chegou a ter 100 mil aves de corte. O sistema integrado, para ele, não deu certo e há dez anos ele trocou por poedeiras, que lhe garantem a produção de 140 caixas de 30 dúzias de ovos por dia. Nem sempre os preços compensam – em 2001, Jesus vendeu a caixa de 30 dúzias por R$ 26,00 até setembro, quando os preços caíram para R$ 17,00 porque a oferta de ‘pintinhas’ pelos incubatórios cresceu 30%. Ele ignora a causa desse “mistério”, mas sabe que o custo de cada caixa é de R$ 23,00. O que sustenta a atividade é a diversidade.
Além das aves, ele cria gado leiteiro e produz milho e soja. Gado, café e cana são as riquezas pioneiras estampadas no brasão dessa cidade que homenageia Francisco de Sales Oliveira Júnior, presidente da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, que em 1900, ergueu ali a estação de trem. Sales prospera, apostando no agronegócio, que responde por 80% de sua arrecadação.
Dados
- População: 9,3 mil habitantes
- Receita: R$ 7,56 milhões
- Cana: 18 mil ha (1,44 milhão t)
- Soja: 2.200 ha (88 mil sc de 60 kg)
- Milho: 300 ha (20 mil sc de 60 kg)
- Amendoim: 300 ha (36 mil sc de 25 kg)
- Café: 346 ha (13,8 mil sc de 60 kg benef.)
- Café novo: 306 ha
- Gado de corte: 2 mil cabeças
- Gado leiteiro: 4 mil cabeças
Janeiro/2002